domingo, 29 de julho de 2012
terça-feira, 1 de maio de 2012
domingo, 29 de abril de 2012
sexta-feira, 27 de abril de 2012
sábado, 21 de abril de 2012
NUVENS
Sabe bem andar nas nuvens quando a prosaica realidade cá por baixo é aquela que conhecemos.
Fotografias da minha mulher, dois poemas de Sophia e a música "Now we are free", do filme "Gladiador".
terça-feira, 3 de abril de 2012
segunda-feira, 2 de abril de 2012
Requiem
A dor, o sofrimento (por vezes atroz), físico ou mental, é algo que acompanha o homem nos seus passos pelo mundo. O "Requiem" de Mozart (e, no caso, a "Lacrimosa") conduz-nos à mais profunda expressão da dor.
O tempo
O tempo esvai-se como a
poeira levada pelo vento. O presente não passa de uma ficção. Tudo é mudança a
cada instante. O que pensamos que é deixou de o ser, pertence já ao passado. O
tempo constrói e destrói. Civilizações antigas, que foram imponentes e cantadas
pelos poetas, jazem sob a areia do deserto. O tempo, sempre o tempo, nada mais
que o tempo...
domingo, 1 de abril de 2012
Ritorna, oh caro e dolce mio tesoro (de Handel)
Cantado pela minha filha, Ângela Silva, acompanhada ao piano por João Rosa.
sábado, 31 de março de 2012
segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012
UMA PORTA NO PICO
Uma porta.
Perdida no meio da agreste paisagem, ali está como um convite ou uma recusa. Uma porta é entrada e saída, acolhimento e abandono, chegada e despedida. Quem a cruzou? Que fastos se viveram naquela casa? Que alegrias e desgraças se escondem para lá dos umbrais? Terá, por certo, saído dela um grito de júbilo com o nascimento de alguém, ou de dor, quando um caixão a transpôs a caminho da última morada (e ainda chamamos “morada” a um inóspito sítio fora da nossa casa). Com certeza, na sua soleira, dormia um cão, que saltava de alegria e se desfazia em latidos, quando o dono regressava das vinhas. E, nas noites de inverno, a ela chegavam os amigos para o serão, de lanterna acesa e cobertos de agasalhos: "Entrem, entrem, está um gelo aí fora!...”. Fechava-se a porta, enquanto o vento, vindo da montanha, assobiava melopeias por sobre o bramir do mar, ali bem perto. Se apurarmos o ouvido, talvez ainda ouçamos uma voz: “Era uma vez…”. Lembram-se dos contos tenebrosos que ouvíamos ao serão? Um dia, o último habitante deixou-a (ou levaram-no?) para trás e o Tempo, que tudo constrói e destrói, fez, como sempre, a sua obra.
Os mistérios que uma simples porta encerra…
Será que ela ficou ali apenas para nos mostrar que, mesmo quando parece que tudo ruiu, resta sempre um caminho para o sonho?
DOIS DRAGOEIROS EM SÃO MATEUS
Dois dragoeiros
Dois dragoeiros, junto ao caminho que vai dar ao porto de São
Mateus do Pico. Duas árvores que ostentam o seu garbo de séculos (quem diria?).
Já viram passar sucessivas gerações de homens. A voragem do tempo, que consome
tudo o que é vivo, parece não os afectar. Eles são a memória da Ilha. Em miúdo,
subi, como outros, aos seus ramos mais altos, nos quais alguns deixaram incisões
(nomes e
desenhos). Ficou esse registo, mas muitos do que o fizeram já se foram. Os
dragoeiros, porém, indiferentes a isso, persistem no seu desafio à morte.
Quando me abrigo à sua sombra, vêm-me à memória os tempos em que corria, solto e despreocupado, pelo caminho que os orla, na direcção da "Baixa", onde ía dar uns mergulhos. Ao mesmo tempo, estes dragoeiros agudizam-me, pelo constraste com a sua longevidade, o sentimento da finitude, a consciência de que breves são os dias que nos são concedidos neste mundo.
Quando me abrigo à sua sombra, vêm-me à memória os tempos em que corria, solto e despreocupado, pelo caminho que os orla, na direcção da "Baixa", onde ía dar uns mergulhos. Ao mesmo tempo, estes dragoeiros agudizam-me, pelo constraste com a sua longevidade, o sentimento da finitude, a consciência de que breves são os dias que nos são concedidos neste mundo.
BELEZA
Há quem corra o mundo em
busca da beleza. O mais provável é voltar de mãos a abanar, apenas com um
passaporte cheio de carimbos e nada mais (por certo, a arrotar importância, mas
isso é outro assunto). A beleza está ao alcance dos olhos que saibam
ver. Não é verdade, Eugénio?
«A BELEZA
Chovera. Que sorte ter nos meus olhos essa melancólica praça quase deserta, os oiros glaucos de Bellini espalhados pelas lajes molhadas e os verdes todos, do esmeralda ao musgo, escurecidos pela noite que se avista já de algumas mansardas. Porque a beleza, ou é esta entrega a quem de súbito a descobre, ou se esconde, cruel, a quem faz da sua procura uma perseguição de carniceiro».
(Eugénio de Andrade, "in" "Vertentes do Olhar")
Eugénio de Andrade, por José Rodrigues
«A BELEZA
Chovera. Que sorte ter nos meus olhos essa melancólica praça quase deserta, os oiros glaucos de Bellini espalhados pelas lajes molhadas e os verdes todos, do esmeralda ao musgo, escurecidos pela noite que se avista já de algumas mansardas. Porque a beleza, ou é esta entrega a quem de súbito a descobre, ou se esconde, cruel, a quem faz da sua procura uma perseguição de carniceiro».
(Eugénio de Andrade, "in" "Vertentes do Olhar")
Eugénio de Andrade, por José Rodrigues
sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012
sábado, 21 de janeiro de 2012

EUGÉNIO DE ANDRADE
AS MÃES
Quando voltar ao Alentejo as cigarras já terão morrido. Passaram o verão todo a transformar a luz em canto - não sei de destino mais glorioso. Quem lá encontraremos, pela certa, são aquelas mulheres envolvidas na sombra dos seus lutos, como se a terra lhes tivesse morrido e para todo o sempre se quedassem órfãs. Não as veremos apenas em Barrancos ouem Castro Laboreiro , elas estão em toda a parte onde nasce o sol: em Cória ou Catânia, em Mistras ou Santa Clara del Cobre, em Varchats ou Beni Mellal, porque elas são as mães.
Quando voltar ao Alentejo as cigarras já terão morrido. Passaram o verão todo a transformar a luz em canto - não sei de destino mais glorioso. Quem lá encontraremos, pela certa, são aquelas mulheres envolvidas na sombra dos seus lutos, como se a terra lhes tivesse morrido e para todo o sempre se quedassem órfãs. Não as veremos apenas em Barrancos ou
José Régio
Cântico Negro
"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha mãe
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!
Uma espécie de alarme telúrico faz-me vencer milhas e milhas, transportando-me ao chão onde nasci - São Mateus do Pico - à sombra da Montanha, e, ao fim e ao cabo, a toda a Ilha, que nunca se afasta dos meus pensamentos (os ilhéus trazem sempre a ilha às costas...). Aqui ficam umas fotografias tiradas pela minha mulher, no Verão de 2010, que seleccionei (com muita dificuldade) entre centenas e centenas. A voz é da minha filha, Ângela Silva, interpretando “Vocalizo”, de António Victorino de Almeida, uma das composições que integram o CD “Brumas”, em que entram também Francisco Sassetti (piano) e Paulo Guerreiro (trompa).
domingo, 15 de janeiro de 2012
Vitorino Nemésio
Versos a uma cabrinha que eu tive
Com seu focinho húmido
Esta cabrinha colhe
Qualquer sinal de noite
De que a erva se molhe.
Daquela flor pendente
Pra que seu passo apela
Parece que a semente
É o badalinho dela.
Sua pelerina escura
Vela-a da noite sentida;
Tem cada pêlo uma gota,
Com passos, poeira, vida.
De silêncio, silvas, fome,
Compõe nos úberes cheios
Toda a razão do seu nome
E fruto de seus passeios.
Assim já marcha grave
Como os navios entrando,
Pesada dos pensamentos
Da sua vida suave.
E enfim, no puro penedo
De seus casquinhos tocado,
Está como o ovo e a ave:
Grande segredo
Equilibrado.
CEDROS DO MATO
São a escrita da Montanha.
Guardam a memória
Dos lumes e das neves.
Resistir: o seu destino.
E como são garbosos,
No meio do nevoeiro,
Que bebem em silêncio...
Cedros do mato,
Meus velhos companheiros
Das alturas e do sonho.
PICO
O chão de onde venho.
O começo do Mundo.
A montanha sagrada.
A desmesura.
O começo do Mundo.
A montanha sagrada.
A desmesura.
Fomes.
Ciclones.
Fogo.
Lava.
Neve.
Arpões.
Ilhéus.
Baías.
O maaar...
Rumar.
Amar.
Rumar.
Amar.
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