sábado, 21 de abril de 2012

NUVENS


Sabe bem andar nas nuvens quando a prosaica realidade cá por baixo é aquela que conhecemos.
Fotografias da minha mulher, dois poemas de Sophia e a música "Now we are free", do filme "Gladiador".

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Requiem


      A dor, o sofrimento (por vezes atroz), físico ou mental, é algo que  acompanha o homem nos seus passos    pelo mundo. O "Requiem" de Mozart (e, no caso, a "Lacrimosa") conduz-nos à mais profunda expressão da dor.

O tempo

                                           Enya (Only Time)



O tempo esvai-se como a poeira levada pelo vento. O presente não passa de uma ficção. Tudo é mudança a cada instante. O que pensamos que é deixou de o ser, pertence já ao passado. O tempo constrói e destrói. Civilizações antigas, que foram imponentes e cantadas pelos poetas, jazem sob a areia do deserto. O tempo, sempre o tempo, nada mais que o tempo...

sábado, 31 de março de 2012

UMA TARDE NA COSTA VICENTINA


                                                        Uma costa que me apaixona.
                                                        Fotografias da minha mulher.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

UMA PORTA NO PICO



Uma porta.
Perdida no meio da agreste paisagem, ali está como um convite ou uma recusa. Uma porta é entrada e saída, acolhimento e abandono, chegada e despedida. Quem a cruzou? Que fastos se viveram naquela casa? Que alegrias e desgraças se escondem para lá dos umbrais? Terá, por certo, saído dela um grito de júbilo com o nascimento de alguém, ou de dor, quando um caixão a transpôs a caminho da última morada (e ainda chamamos “morada” a um inóspito sítio fora da nossa casa). Com certeza, na sua soleira, dormia um cão, que saltava de alegria e se desfazia em latidos, quando o dono regressava das vinhas. E, nas noites de inverno, a ela chegavam os amigos para o serão, de lanterna acesa e cobertos de agasalhos: "Entrem, entrem, está um gelo aí fora!...”. Fechava-se a porta, enquanto o vento, vindo da montanha, assobiava melopeias por sobre o bramir do mar, ali bem perto. Se apurarmos o ouvido, talvez ainda ouçamos uma voz: “Era uma vez…”. Lembram-se dos contos tenebrosos que ouvíamos ao serão? Um dia, o último habitante deixou-a (ou levaram-no?) para trás e o Tempo, que tudo constrói e destrói, fez, como sempre, a sua obra.
Os mistérios que uma simples porta encerra…
Será que ela ficou ali apenas para nos mostrar que, mesmo quando parece que tudo ruiu, resta sempre um caminho para o sonho?

DOIS DRAGOEIROS EM SÃO MATEUS


Dois dragoeiros
Dois dragoeiros, junto ao caminho que vai dar ao porto de São Mateus do Pico. Duas árvores que ostentam o seu garbo de séculos (quem diria?). Já viram passar sucessivas gerações de homens. A voragem do tempo, que consome tudo o que é vivo, parece não os afectar. Eles são a memória da Ilha. Em miúdo, subi, como outros, aos seus ramos mais altos, nos quais alguns deixaram incisões (nomes e desenhos). Ficou esse registo, mas muitos do que o fizeram já se foram. Os dragoeiros, porém, indiferentes a isso, persistem no seu desafio à morte.
Quando me abrigo à sua sombra, vêm-me à memória os tempos em que corria, solto e despreocupado, pelo caminho que os orla, na direcção da "Baixa", onde ía dar uns mergulhos. Ao mesmo tempo, estes dragoeiros agudizam-me, pelo constraste com a sua longevidade, o sentimento da finitude, a consciência de que breves são os dias que nos são concedidos neste mundo.


BELEZA




Há quem corra o mundo em busca da beleza. O mais provável é voltar de mãos a abanar, apenas com um passaporte cheio de carimbos e nada mais (por certo, a arrotar importância, mas isso é outro assunto). A beleza está ao alcance dos olhos que saibam ver. Não é verdade, Eugénio?

«A BELEZA
Chovera. Que sorte ter nos meus olhos essa melancólica praça quase deserta, os oiros glaucos de Bellini espalhados pelas lajes molhadas e os verdes todos, do esmeralda ao musgo, escurecidos pela noite que se avista já de algumas mansardas. Porque a beleza, ou é esta entrega a quem de súbito a descobre, ou se esconde, cruel, a quem faz da sua procura uma perseguição de carniceiro».
(Eugénio de Andrade, "in" "Vertentes do Olhar")

                                               

                                                                         Eugénio de Andrade, por José Rodrigues 

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

SUBIDA AO PICO


                                                 Subida ao Pico: uma aventura que não se esquece.

sábado, 21 de janeiro de 2012


EUGÉNIO DE ANDRADE
AS MÃES
Quando voltar ao Alentejo as cigarras já terão morrido. Passaram o verão todo a transformar a luz em canto - não sei de destino mais glorioso. Quem lá encontraremos, pela certa, são aquelas mulheres envolvidas na sombra dos seus lutos, como se a terra lhes tivesse morrido e para todo o sempre se quedassem órfãs. Não as veremos apenas em Barrancos ou em Castro Laboreiro, elas estão em toda a parte onde nasce o sol: em Cória ou Catânia, em Mistras ou Santa Clara del Cobre, em Varchats ou Beni Mellal, porque elas são as mães.


José Régio        
           
Cântico Negro

"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!

 Uma espécie de alarme telúrico faz-me vencer milhas e milhas, transportando-me ao chão onde nasci - São Mateus do Pico - à sombra da Montanha, e, ao fim e ao cabo, a toda a Ilha, que nunca se afasta dos meus pensamentos (os ilhéus trazem sempre a ilha às costas...). Aqui ficam umas fotografias tiradas pela minha mulher, no Verão de 2010, que seleccionei (com muita dificuldade) entre centenas e centenas. A voz é da minha filha, Ângela Silva, interpretando “Vocalizo”, de António Victorino de Almeida, uma das composições que integram o CD “Brumas”, em que entram também Francisco Sassetti (piano) e Paulo Guerreiro (trompa).

domingo, 15 de janeiro de 2012

 

 

 

Vitorino Nemésio

Versos a uma cabrinha que eu tive

Com seu focinho húmido
Esta cabrinha colhe
Qualquer sinal de noite
De que a erva se molhe.

Daquela flor pendente
Pra que seu passo apela
Parece que a semente
É o badalinho dela.

Sua pelerina escura
Vela-a da noite sentida;
Tem cada pêlo uma gota,
Com passos, poeira, vida.

De silêncio, silvas, fome,
Compõe nos úberes cheios
Toda a razão do seu nome
E fruto de seus passeios.

Assim já marcha grave
Como os navios entrando,
Pesada dos pensamentos
Da sua vida suave.

E enfim, no puro penedo
De seus casquinhos tocado,
Está como o ovo e a ave:
Grande segredo
Equilibrado.

CEDROS DO MATO



São a escrita da Montanha.
Guardam a memória
Dos lumes e das neves.
Resistir: o seu destino.
E como são garbosos,
No meio do nevoeiro,
Que bebem em silêncio...

Cedros do mato,
Meus velhos companheiros
Das alturas e do sonho.

PICO

O chão de onde venho.
O começo do Mundo.
A montanha sagrada.
A desmesura.
Fomes.
Ciclones.
Fogo.
Lava.
Neve.
Arpões.
Ilhéus.
Baías.
O maaar...
Rumar.
Amar.